sexta-feira, 25 de abril de 2014

TRANSFORMAR INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO



UM DESAFIO DE NOSSO TEMPO







Por Cláudia S. Coelho*

Nasci em uma época na qual a informação não estava “à distância de um clique”, em que ter todos os tomos da Enciclopédia Barsa era luxo de poucos e, por isso, grande parte dos estudantes tinha por hábito frequentar a biblioteca da escola. Diante das dificuldades que enfrentávamos, quando nos deparávamos com uma informação relevante nós a guardávamos a sete chaves a esmiuçávamos, buscávamos entender tudo que estivesse relacionado ela – refletíamos, elaborávamos, compreendíamos e, por fim, chegávamos à síntese da ideia e nos apropriávamos dela – ou seja, transformávamos informação em conhecimento.

Assim sendo, há duas perguntas que me perseguem:  

1.Por que hoje, diante dos recursos tecnológicos a nosso dispor, os quais nos permitem acesso a informações sobre qualquer área do saber, os jovens vão perdendo ao longo de sua trilha o encanto e a alegria da descoberta mostrada no início de seu caminhar, transformando-se em seres totalmente robotizados que repetem as informações adquiridas, sem a mínima elaboração de seu conteúdo ou consciência de seu significado?

2.Qual deveria ser o papel dos ditos formadores de opinião, entre deles os educadores, no despertar da consciência do jovem e na formação do ser ético e crítico?

De acordo com Celso Antunes (Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 11), vivemos em um período histórico de extrema banalização de informações. Estas, que antes chegavam aos poucos, capazes de serem assimiladas, comentadas e, portanto, mantidas na lembrança, foram literalmente “atropeladas” por um avanço incontrolável dos meios de comunicação e das ferramentas tecnológicas que nos trazem de toda parte, a cada segundo, uma infinidade de saberes. Tal avanço, fez com que as informações ganhassem uma nova dimensão e incomensurável volume, alterando de forma substancial o papel da escola e a função do professor.

Vivemos em um período histórico de extrema banalização de informações.

Não faz muito tempo, cabia ao professor levar aos alunos informações especializadas de sua disciplina e cabia aos pupilos assimilá-las. Hoje, essa tarefa não é imprescindível, pois as informações transitam por meios acessíveis a, praticamente, todos. No entanto, seu excepcional volume e a necessidade constante de sua atualização torna primordial a intervenção de alguém que auxilie a transformação da informação em conhecimento, em habilidades, em práticas cívicas, éticas, cidadãs e, por fim, em sabedoria – ou que pelo menos ofereça as bases para que esta seja atingida.
            Essa notável mudança de paradigma sobre a popularização da informação veio acompanhada de outra: o número crescente de estudos sobre o funcionamento da mente humana e dos meios que esta utiliza para assimilar conhecimentos.  
As ciências cognitivas vieram para ficar, trazendo novas teorias sobre a mente e, por conseguinte, sobre a inteligência, a memória e a aprendizagem.
            A convergência dessas duas mudanças demanda do professor uma nova postura – a de mediador cuja função é auxiliar o aluno a construir o conhecimento a partir das informações que estão a seu dispor. A sala de aula, assim como a escola, precisa assumir uma nova feição, deixar de ser vista como um espaço de recepção de conhecimentos e transformar-se em uma “academia de ginástica”, onde o cérebro seja exercitado para receber estímulos e desenvolver inteligências, em um lugar onde conceitos como ética, moral, empatia, cidadania e pensamento crítico deixem de ser mero idealismo e tornem-se parte da prática cotidiana.
            Em suma, o extraordinário avanço da tecnologia e dos meios de comunicação e a popularização dos saberes, associado ao que hoje se sabe sobre como a mente humana aprende, reclama por um novo professor - um profissional da educação que ensine seus alunos a colher informações, a organizá-las, a definir sua hierarquia e, sobretudo, os ajude a transformá-las em conhecimento, despertando-os para a importância de criar subsídios internos para a construção de saudáveis relações interpessoais.
Sem uma profunda e sensível reflexão sobre sua prática pedagógica, o profissional da educação pouco fará. Não há como lutar contra as drásticas mudanças ocorridas, recentemente, em nosso modus vivendi. Podemos usá-las a nosso favor e descobrir-nos como artesãos que criam soluções para os desafios impostos pela massificação da informação ou sucumbir a elas, mantendo-nos presos aos grilhões de práticas pedagógicas que já tiveram seus dias contados.
A escolha é nossa. A escolha é sua.

Publicado na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 47

*Cláudia S. Coelho é graduada em letras e especialista em Psicopedagogia e Tradução. claucoelho@uol.com.br


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