TRANSFORMAR
INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO
UM
DESAFIO DE NOSSO TEMPO
Por Cláudia S.
Coelho*
Nasci
em uma época na qual a informação não estava “à distância de um clique”, em que
ter todos os tomos da Enciclopédia Barsa era luxo de poucos e, por isso, grande
parte dos estudantes tinha por hábito frequentar a biblioteca da escola. Diante
das dificuldades que enfrentávamos, quando nos deparávamos com uma informação
relevante nós a guardávamos a sete chaves a esmiuçávamos, buscávamos entender
tudo que estivesse relacionado ela – refletíamos,
elaborávamos, compreendíamos e, por fim, chegávamos à síntese da ideia e nos
apropriávamos dela – ou seja, transformávamos
informação em conhecimento.
Assim sendo, há duas
perguntas que me perseguem:
1.Por que hoje, diante dos
recursos tecnológicos a nosso dispor, os quais nos permitem acesso a
informações sobre qualquer área do saber, os jovens vão perdendo ao longo de
sua trilha o encanto e a alegria da descoberta mostrada no início de seu
caminhar, transformando-se em seres totalmente robotizados que repetem as
informações adquiridas, sem a mínima elaboração de seu conteúdo ou consciência
de seu significado?
2.Qual deveria ser o papel
dos ditos formadores de opinião, entre deles os educadores, no despertar da
consciência do jovem e na formação do ser ético e crítico?
De acordo com Celso Antunes
(Como transformar informações em
conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 11), vivemos em um período
histórico de extrema banalização de informações. Estas, que antes chegavam aos
poucos, capazes de serem assimiladas, comentadas e, portanto, mantidas na
lembrança, foram literalmente “atropeladas” por um avanço incontrolável dos
meios de comunicação e das ferramentas tecnológicas que nos trazem de toda
parte, a cada segundo, uma infinidade de saberes. Tal avanço, fez com que as
informações ganhassem uma nova dimensão e incomensurável volume, alterando de
forma substancial o papel da escola e a função do professor.
Vivemos em um período histórico de extrema banalização de
informações.
Não faz muito tempo, cabia
ao professor levar aos alunos informações especializadas de sua disciplina e
cabia aos pupilos assimilá-las. Hoje, essa tarefa não é imprescindível, pois as
informações transitam por meios acessíveis a, praticamente, todos. No entanto, seu
excepcional volume e a necessidade constante de sua atualização torna
primordial a intervenção de alguém que auxilie a transformação da informação em
conhecimento, em habilidades, em práticas cívicas, éticas, cidadãs e, por fim,
em sabedoria – ou que pelo menos ofereça as bases para que esta seja atingida.
Essa notável mudança de paradigma sobre a popularização
da informação veio acompanhada de outra: o número crescente de estudos sobre o
funcionamento da mente humana e dos meios que esta utiliza para assimilar
conhecimentos.
As ciências cognitivas
vieram para ficar, trazendo novas teorias sobre a mente e, por conseguinte, sobre
a inteligência, a memória e a aprendizagem.
A convergência dessas duas mudanças demanda do professor uma
nova postura – a de mediador cuja função é auxiliar o aluno a construir o
conhecimento a partir das informações que estão a seu dispor. A sala de aula,
assim como a escola, precisa assumir uma nova feição, deixar de ser vista como
um espaço de recepção de conhecimentos e transformar-se em uma “academia de
ginástica”, onde o cérebro seja exercitado para receber estímulos e desenvolver
inteligências, em um lugar onde conceitos como ética, moral, empatia, cidadania
e pensamento crítico deixem de ser mero idealismo e tornem-se parte da prática
cotidiana.
Em suma, o extraordinário avanço da tecnologia e dos
meios de comunicação e a popularização dos saberes, associado ao que hoje se
sabe sobre como a mente humana aprende, reclama por um novo professor - um
profissional da educação que ensine seus alunos a colher informações, a
organizá-las, a definir sua hierarquia e, sobretudo, os ajude a transformá-las
em conhecimento, despertando-os para a importância de criar subsídios internos
para a construção de saudáveis relações interpessoais.
Sem
uma profunda e sensível reflexão sobre sua prática pedagógica, o profissional
da educação pouco fará. Não há como lutar contra as drásticas mudanças
ocorridas, recentemente, em nosso modus
vivendi. Podemos usá-las a nosso favor e descobrir-nos como artesãos que
criam soluções para os desafios impostos pela massificação da informação ou
sucumbir a elas, mantendo-nos presos aos grilhões de práticas pedagógicas que
já tiveram seus dias contados.
A escolha é nossa. A escolha
é sua.
Publicado na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 47
*Cláudia S. Coelho é
graduada em letras e especialista em Psicopedagogia e Tradução. claucoelho@uol.com.br
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