terça-feira, 29 de abril de 2014

O EU LÍRICO

OU

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Cláudia S. Coelho*


EU LÍRICO 0001


Lutar com palavras
É a luta mais vã.

Carlos Drummond de Andrade

Concordo com Drummond em gênero , número e grau.


Sim, as palavras, assim como as ideias, vêm, vão, e nada nem ninguém consegue detê-las. Elas assumem corpo, identidade e chegam a se apropriar de quem as usa – em especial, escritores, escritores, compositores... todos que fazem dela sua matéria-prima.

É preciso, no entanto, discernir o criador da criatura; o autor da obra.

Exatamente por isso decidi escrever esta nota de esclarecimento sobre o Eu Lírico.

Meses atrás postei o poema Cosmopo-vita  - ou Diálogo com o Vazio [cuja versão reduzida segue abaixo], o qual deu margem a tamanha controvérsia, a ponto de ter recebido uma enxurrada de e-mail de alguns conhecidos com o telefone de contato de seus psiquiatras. A polêmica chegou a tal ponto que me vi obrigada a escrever esta Nota de Esclarecimento:

-Não! Não estou deprimida! Introspectiva, talvez. Quiça meu Eu Lírico!  
A confusão entre narrador e autor, em especial em textos poéticos, é tamanha que por eu usar, por vezes, português castiço em meus textos, alguns de meus leitores acreditam que eu seja da “terrinha”, uma autêntica portuguesa.

O início desse poema nasceu há muito tempo e foi resgatado durante minha mudança – mudança de casa, mudança de vida, mudança... Ele estava em um caderninho de anotações junto a meus guardados e, por obra do mero acaso, aberto nas páginas abaixo. O texto, a princípio, tinha como foco uma bailarina, mas ao lê-lo, em outro momento de vida, optei por usá-lo como exercício, criando um Eu Lírico que se valesse de palavras que rimassem, fizessem sentido, gerassem tensão e se transformassem em imagens. Simples assim.

BOX – ESBOÇO DE COSMOPO-VITA


EU LÍRICO 0002

esboço de Cosmopo-Vita

COSMOPO-VITA OU DIÁLOGO COM O VAZIO
(na íntegra em http://ritualdoalimento.blogspot.com.br/2013/07/09-de-julho-cosmopo-vida.html)

Na ressaca do sono,
de noites perdidas,
tento, intento,
acercar-me de ti.

Vagando ao acaso,
no brilho do ocaso,
te testo, incesto,
Replicas por fim:

Sou o amor momento,
mero alento,
fugaz sentimento
sem nenhum intento...

Encontro fortuito,
sem qualquer intuito,
o Nada em si,
simples assim. 



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EU LÍRICO 0003

O que leva à pergunta:

- Mas afinal o que é o Eu Lírico? Tão descerrado; tão pouco compreendido.

Primeiramente um pouco de história.

O termo “lírico”, tem origem no latim, lyrìcus,a,um, de lyra,ae ou lira  - instrumento musical. Na antiguidade referia-se a uma composição poética para ser cantada com acompanhamento da lira e, por extensão de sentido, passou a definir uma obra em verso feita para canto, ou própria para ser musicada. Com a chegada do século XV, a palavra poética passou a ser declamada e afastou-se do som lírico, mas o termo continuou a ser ligado à produção literária, em especial à poética.

Voltando ao Eu Lírico – também chamado de eu Poético – este é o “eu” que fala no texto e não expressa, necessariamente, os sentimentos do autor, mas, sim, os do Eu Poético. Ele é a “voz” que fala no poema ou texto em prosa e expressa ideias, emoções, pensamentos, vivências... que podem coincidir ou não com as do escritor. A validade estética de um texto independe de ele representar ou não a verdade do autor. O autor é, portanto, livre para usar sua criatividade para ser quem ou o quê queira representar e para transformar a realidade da forma que lhe aprouver.

Sábias são as palavras do crítico Yves Stalloni, quanto à concepção do eu Lírico:

[...] O lirismo é a emanação de um eu – que o romantismo gostava de confundir com a pessoa dopoeta, mas que pode se apagar por detrás de uma de suas personagens.

STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: Difel, 2001, p.151

Portanto, o Eu Lírico que escolhi fala por mim, mas não representa quem Sou, como estou e reitero:


No entanto, cabe aqui uma ressalva, dificilmente alguém conseguirá escrever, falar, se expressar com propriedade sobre tristeza, amor, decepção sem nunca ter experienciado tais sentimentos, muito embora não seja preciso ter sido violentado para escrever a respeito da dor do estupro – o primordial é sentir empatia pelas pessoas que o foram, conseguir sentir na alma sua comoção, pesar, para não se tornar mero narrador de um discurso vazio - pois, como afirmou Fernando Pessoa – o poeta multifacetado, cujos heterônimos podem ser considerados diferentes eu Líricos -, em seu poema “Autopsicografia”: 

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EU LÍRICO 0004


O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
















Para conseguir se expressar com veracidade a maior parte dos escritores, atores, bailarinos artistas enfim, usam um recurso chamado “resgate”.

Usando como exemplo mais uma vez o estupro, o artista “mergulha” na personagem e “resgata” em sua memória afetiva momentos em que tenha sido violado em seus princípios e transpõe a intensidade dessa dor para seu Eu Lírico ou Poético.

Infelizmente, por desconhecimento, alguns não discriminam o ator da personagem; o autor do texto; o poeta do sofrimento. O que seria de Anthony Hopkins se ele tivesse em si Hannibal Lecter, o psicopata brilhantemente interpretado no filme “O Silêncio dos Inocentes”? Um ser sem qualquer traço de consciência. De Carlos Drummond de Andrade se fosse a própria encarnação de José, o foco de um de seus poemas? Um homem perdido; sem eira nem beira?

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EU LÍRICO 0006

Dizem que a vida imita a arte - que a arte imita a vida. Tanto faz, uma não vive sem a outra, uma não invalida a outra.

Artistas, de modo geral, são pessoas intensas que observam o mundo sob uma ótica distinta, taxados, por vezes, de modo pejorativo, como excêntricos.

Sua visão de mundo não condiz com a da sociedade do espetáculo, do hiperprazer, do hipermomento, do hipernada, do hipertudo – tão fugaz, tão efêmera - e esta às vezes, incomoda, toca a ferida, cutuca a casa de marimbondos dormente em nosso interior.

Vivemos na sociedade do “Vamos em frente que atrás vem gente!”, do “Cada um por si, Deus por todos”, da “Ausência e da Aparência” (ou da felicidade sem lembranças) – na Era do Vazio.

Não digo com isso que devamos nos deixar levar pela depressão, pelo negativismo, mas, sim, ter uma visão crítica de nosso momento. Caso contrário, os filhos, dos filhos, de nossos filhos, continuarão a viver um jogo de gato e rato, um jogo de aparências no qual - parafraseando José Saramago: “Viverão em uma espécie de Luna Park”, na “Caverna de Platão” vislumbrando, quando muito, parcas imagens da realidade, presos pelos grilhões do imediatismo, da ostentação, da tirania do cotidiano, da ilusão hedonista.

- Não! Não estou deprimida. Só desejo manter-me lúcida perante à sociedade do espetáculo.

Atenta e afastada do hiperuniverso que nos abarca e faz sofrer.

Quero, como já disse, ser íntegra comigo mesma. Minuto após minuto, dia após dia, sempre.

E nada mais apropriado do que uma citação de Fernando Pessoa para mostrar que o vazio não é uma invenção do homem contemporâneo:

“Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar seus amigos, ou quando menos, seus companheiros de espírito?”.

Por fim, proponho a seguinte reflexão: “Não seria a versão hipercontemporânea do Eu Lírico o "Eu Digital" - um perfil elaborado, colocado nas redes sociais, nos sites de relacionamentos... espaços onde temos liberdade para criar  uma "persona ideal" - ser quem queremos, como queremos, quando queremos - em consonância com o que imaginamos se espera de nós -  e "vender" essa imagem sem nos expormos, sem nos revelarmos, sem correr o risco de que alguém bata à nossa porta e vislumbre nosso verdadeiro Eu?  

PS:  Acabei de receber uma mensagem vinda de um hospital bibliotecário, encaminhada pelo Eu Lírico - meu conhecido de longa data. Agonizante, ele afirma temer ser
substituído em todas instâncias pelo "Eu Digital" e estar prestes a editar sua Nota de Falecimento. 

Tomada, portanto, por sua dor decidi criar a campanha: "Salve o Eu Lírico", da qual para participar basta escrever, pensar, criar.  




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O pensar do artista




HIPERLINK 1 – CURIOSIDADE
ESTÁTUA DE DRUMMOND NA ORLA DE COPACABANA, UMA HOMENAGEM DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO AO CENTENÁRIO DO POETA.
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Quem passa todo os dias pelo calçadão de Copacabana, nas imediações do Posto 6, no Rio de Janeiro, já se acostumou com a silhueta de um velhinho que desde que ali chegou, nos idos de 30 de outubro de 2002, nunca mais abandonou a postura circunspecta e contemplativa.
A Estátua de Carlos Drummond de Andrade, imortalizado pelas mãos do mineiro Leo Santana, foi lavrada em bronze com tal maestria que hoje é um verdadeiro chamariz de turistas e curiosos. É comum ver filas de pessoas que ao lado dela se sentam para tirar fotos, conversar, ou simplesmente olhar a paisagem fazendo companhia ao taciturno poeta.
Às vésperas de sua inauguração, quando ainda estava envolta em plástico da cabeça aos pés, ocorreu um fato curioso: policiais do 19º BPM chegaram a abrir chamada via rádio sobre a localização de um indivíduo possivelmente asfixiado, confundindo a estátua do poeta com a vítima de um crime.

HIPERLINK 2 – YVES STALLONI
CONHEÇA
Yves Stalloni é professor de letras modernas, doutor em letras e leciona na Universidade de Toulon, na França. É autor de várias obras sobre metodologia e crítica literária.

HIPERLINK 3 - FERNANDO PESSOA

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SAIBA MAIS

Fernando Pessoa (1888 – 1935)
Um dos maiores expoentes da Literatura Portuguesa, desdobrou-se, como poeta, em múltiplas personalidades ou heterônimos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis,
Alberto Caieiras e Bernardo Soares.

HIPERLINK 4 - JOSÉ

E agora José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu...
Está sem mulher,
Está sem discurso...
Tudo acabou,
Tudo fugiu
(fragmento de “José”, Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

HIPERLINK 5 – A ERA DO VAZIO
CONCEITO
A expressão “A Era do Vazio” foi
cunhada pelo filósofo francês,
Gilles Lipovetsky em 1983, ao
publicar o livro homônimo, no qual
afirma que na sociedade contemporânea
o desejo e escolhas pessoais são
cada vez mais valorizados em detrimento
do outro, da comunidade.





sábado, 26 de abril de 2014

SRMF - sala de recursos multifuncional


1. Ensino do Sistema Braille: Consiste na definição e utilização de métodos e estratégias para que o estudante se aproprie desse sistema tátil de leitura e escrita.
2. Estratégias para autonomia no ambiente escolar: Consiste no desenvolvimento de atividades, realizadas ou não com o apoio de recursos de tecnologia assistiva, visando à fruição, pelos estudantes, de todos os bens – sociais, culturais, recreativos, esportivos entre outros – serviços e espaços disponíveis no ambiente escolar com autonomia, independência e segurança.
3. Ensino do uso de recursos ópticos e não ópticos: Consiste no ensino da funcionalidade e da usabilidade dos recursos ópticos e não ópticos e no desenvolvimento de estratégias para promoção da acessibilidade nas atividades de leitura e escrita. São exemplos de recursos ópticos: lupas manuais ou de apoio, lentes específicas bifocais, telescópios, dentre outros, que possibilitam a ampliação de imagem. São exemplos de recursos não ópticos: iluminação, plano inclinado, contrastes, ampliação de caracteres, cadernos de pauta ampliada, caneta de escrita grossa, lupa eletrônica, recursos de informática, dentre outros, que favorecem o funcionamento visual.
4. Estratégias para o desenvolvimento de processos mentais: Consiste na promoção de atividades que ampliem as estruturas cognitivas facilitadoras da aprendizagem, nos mais diversos campos do conhecimento, para desenvolvimento da autonomia e independência do estudante frente às diferentes situações no contexto escolar. A ampliação dessas estratégias para o desenvolvimento dos processos mentais possibilita maior interação entre os estudantes, o que promove a construção coletiva de novos saberes na sala de aula comum.
5. Técnicas de orientação e mobilidade: Consiste no ensino de técnicas e desenvolvimento de atividades para a orientação e mobilidade proporcionando o conhecimento dos diferentes espaços e ambientes para a locomoção do estudante, com segurança e autonomia. Para estabelecer as referências necessárias para o ir e vir. Tais atividades devem considerar as condições físicas, intelectuais e sensoriais de cada estudante.
6. Ensino da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS: O ensino de Libras consiste no desenvolvimento de estratégias pedagógicas para a aquisição das estruturas gramaticais e dos aspectos linguísticos que caracterizam essa língua.
7. Ensino do uso da comunicação alternativa e aumentativa – CAA: Consiste na realização de atividades que ampliem os canais de comunicação com o objetivo de atender as necessidades comunicativas de fala, leitura ou escrita dos estudantes. Alguns exemplos de CAA são cartões de comunicação, pranchas de comunicação com símbolos, pranchas alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador, quando utilizado como ferramenta de voz e comunicação.
8. Estratégias para enriquecimento curricular: Consiste na organização de práticas pedagógicas exploratórias suplementares ao currículo comum, que objetivam o aprofundamento e expansão nas diversas áreas do conhecimento. Tais estratégias podem ser efetivadas por meio do desenvolvimento de habilidades, da articulação dos serviços realizados na escola, na comunidade, nas instituições de educação superior, da prática da pesquisa e desenvolvimento de produtos; da proposição e o desenvolvimento de projetos de trabalho no âmbito da escola, com temáticas diversificadas, como artes, esporte, ciências e outras.
9. Ensino do uso do Soroban: O ensino do uso do Soroban, calculadora mecânico manual, consiste na utilização de estratégias que possibilitem ao estudante o desenvolvimento de habilidades mentais e do raciocínio lógico matemático.
10. Ensino da usabilidade e das funcionalidades da informática acessível: Consiste no ensino das funcionalidades e da usabilidade da informática como recurso de acessibilidade à informação e comunicação, promovendo a autonomia do estudante. São exemplos desses recursos: leitores de tela e sintetizadores de voz, ponteiras de cabeça, teclados alternativos, acionadores, softwares para a acessibilidade.
11. Ensino da Língua Portuguesa na modalidade escrita: Desenvolvimento de atividades e de estratégias de ensino da língua portuguesa, na modalidade escrita como segunda língua, para estudantes usuários de Libras, voltadas à observação e análise da estrutura da língua, seu sistema linguístico, funcionamento e variações, tanto nos processos de leitura como na produção de textos.



sexta-feira, 25 de abril de 2014

TRANSFORMAR INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO



UM DESAFIO DE NOSSO TEMPO







Por Cláudia S. Coelho*

Nasci em uma época na qual a informação não estava “à distância de um clique”, em que ter todos os tomos da Enciclopédia Barsa era luxo de poucos e, por isso, grande parte dos estudantes tinha por hábito frequentar a biblioteca da escola. Diante das dificuldades que enfrentávamos, quando nos deparávamos com uma informação relevante nós a guardávamos a sete chaves a esmiuçávamos, buscávamos entender tudo que estivesse relacionado ela – refletíamos, elaborávamos, compreendíamos e, por fim, chegávamos à síntese da ideia e nos apropriávamos dela – ou seja, transformávamos informação em conhecimento.

Assim sendo, há duas perguntas que me perseguem:  

1.Por que hoje, diante dos recursos tecnológicos a nosso dispor, os quais nos permitem acesso a informações sobre qualquer área do saber, os jovens vão perdendo ao longo de sua trilha o encanto e a alegria da descoberta mostrada no início de seu caminhar, transformando-se em seres totalmente robotizados que repetem as informações adquiridas, sem a mínima elaboração de seu conteúdo ou consciência de seu significado?

2.Qual deveria ser o papel dos ditos formadores de opinião, entre deles os educadores, no despertar da consciência do jovem e na formação do ser ético e crítico?

De acordo com Celso Antunes (Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 11), vivemos em um período histórico de extrema banalização de informações. Estas, que antes chegavam aos poucos, capazes de serem assimiladas, comentadas e, portanto, mantidas na lembrança, foram literalmente “atropeladas” por um avanço incontrolável dos meios de comunicação e das ferramentas tecnológicas que nos trazem de toda parte, a cada segundo, uma infinidade de saberes. Tal avanço, fez com que as informações ganhassem uma nova dimensão e incomensurável volume, alterando de forma substancial o papel da escola e a função do professor.

Vivemos em um período histórico de extrema banalização de informações.

Não faz muito tempo, cabia ao professor levar aos alunos informações especializadas de sua disciplina e cabia aos pupilos assimilá-las. Hoje, essa tarefa não é imprescindível, pois as informações transitam por meios acessíveis a, praticamente, todos. No entanto, seu excepcional volume e a necessidade constante de sua atualização torna primordial a intervenção de alguém que auxilie a transformação da informação em conhecimento, em habilidades, em práticas cívicas, éticas, cidadãs e, por fim, em sabedoria – ou que pelo menos ofereça as bases para que esta seja atingida.
            Essa notável mudança de paradigma sobre a popularização da informação veio acompanhada de outra: o número crescente de estudos sobre o funcionamento da mente humana e dos meios que esta utiliza para assimilar conhecimentos.  
As ciências cognitivas vieram para ficar, trazendo novas teorias sobre a mente e, por conseguinte, sobre a inteligência, a memória e a aprendizagem.
            A convergência dessas duas mudanças demanda do professor uma nova postura – a de mediador cuja função é auxiliar o aluno a construir o conhecimento a partir das informações que estão a seu dispor. A sala de aula, assim como a escola, precisa assumir uma nova feição, deixar de ser vista como um espaço de recepção de conhecimentos e transformar-se em uma “academia de ginástica”, onde o cérebro seja exercitado para receber estímulos e desenvolver inteligências, em um lugar onde conceitos como ética, moral, empatia, cidadania e pensamento crítico deixem de ser mero idealismo e tornem-se parte da prática cotidiana.
            Em suma, o extraordinário avanço da tecnologia e dos meios de comunicação e a popularização dos saberes, associado ao que hoje se sabe sobre como a mente humana aprende, reclama por um novo professor - um profissional da educação que ensine seus alunos a colher informações, a organizá-las, a definir sua hierarquia e, sobretudo, os ajude a transformá-las em conhecimento, despertando-os para a importância de criar subsídios internos para a construção de saudáveis relações interpessoais.
Sem uma profunda e sensível reflexão sobre sua prática pedagógica, o profissional da educação pouco fará. Não há como lutar contra as drásticas mudanças ocorridas, recentemente, em nosso modus vivendi. Podemos usá-las a nosso favor e descobrir-nos como artesãos que criam soluções para os desafios impostos pela massificação da informação ou sucumbir a elas, mantendo-nos presos aos grilhões de práticas pedagógicas que já tiveram seus dias contados.
A escolha é nossa. A escolha é sua.

Publicado na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 47

*Cláudia S. Coelho é graduada em letras e especialista em Psicopedagogia e Tradução. claucoelho@uol.com.br


terça-feira, 22 de abril de 2014

GRAMÁTICA

I. Exercícios um pouco mais mecânicos, embora não de repetição, pautados no uso da norma culta:

01. Assinale a alternativa correta, de acordo com o uso adequado dos conectivos:

a) (   ) Não posso mais ficar esperando, por analogia de estar bastante atrasado para o curso.
b) (   ) Esperamos que o trabalho tenha um bom resultado, sobretudo no que concerne à solução dos problemas apresentados.
c) (   )  Ontem, não pudemos chegar mais cedo, ademais hoje chegamos na hora certa.
d) (   ) Roberto precisou fazer um exame urgente no hospital, outrossim não conseguia nem levantar-se da cama sozinho.
e) (   ) Hoje nós não conseguimos falar com o diretor da empresa, contudo ele não se encontrava presente.


02. Assinale a alternativa que complete o espaço em branco, de acordo com o uso adequado dos conectivos:

a) Sempre que durmo tarde, chego atrasada no trabalho, __________ não consigo levantar cedo no dia seguinte.
(   ) embora                           (   ) por conseguinte                       (   ) apesar de que
(   ) contudo                          (   ) pois                                             (   ) porém


b) Às vezes, penso que o principal problema de hoje é a falta de emprego e a violência, __________ quando analiso a questão seriamente, percebo que todos os problemas provêm da falta de educação.
(   ) consequentemente                 (   ) igualmente                    (   ) contudo 
(   ) outrossim                                   (   ) por isso                           (   ) isto é

c) Não sabemos ao certo qual é o momento exato para se fazer isso, __________ não vamos nos precipitar e correr o risco de cometer uma injustiça.
(   ) por outro lado                (   ) por analogia                              (   ) no entanto
(   ) entretanto                      (   ) por conseguinte                       (   ) ademais



II. Exercícios de reescritura, utilizando a norma culta, mas uma linguagem mais prosaica:


3. Reescreva as frases abaixo, corrigindo os conectivos (entre parênteses encontram-se os conceitos relativos ao conectivos que precisam ser utilizados na reescritura):

a. Não pude ir à sua festa de aniversário ontem, pois prometi que não faltaria de jeito nenhum (concessão)
_______________________________________________________________
b. De vez em quando, penso que a situação não vai melhorar nunca, porque quando verifico o esforço das pessoas, volto a ter esperanças (oposição)
_______________________________________________________________
c. Nunca chego tarde no trabalho, enquanto costumo acordar bem cedo e sair logo de casa (causa)
_______________________________________________________________
d. Hoje já não posso comer tanto quanto comia antes, porém meu peso está acima da média (explicação)
_______________________________________________________________
e. Nós não vamos fazer nada para ajudá-lo, quando você mesmo não quiser se ajudar (condição)
_______________________________________________________________
f. Apesar de estiver completamente curado, Pedro poderá voltar às suas atividades normais (tempo)
_______________________________________________________________
g. Ele se revelou um péssimo funcionário, mas foi despedido sem ter completado um ano de serviço (conclusão)
_______________________________________________________________


4. Relacione as três ideias do grupo de sentenças a seguir em um só parágrafo, articulando-as de acordo com o que for pedido entre parênteses (faça as alterações necessárias à coesão e à coerência do parágrafo):

1.
a)    Muitas empresas multinacionais estão decepcionadas com alguns aspectos da nova Constituição (oposição).
b)    Muitas empresas multinacionais continuarão a investir no Brasil (principal)
c)    Muitas empresas multinacionais acreditam no futuro do Brasil (causa)

2.
a)    Nem todas as confecções do Rio de Janeiro são importantes (principal)
b)    O Rio de Janeiro é o paraíso das confecções (oposição)
c)    Algumas confecções do Rio de Janeiro são clandestinas (explicação)

3.
a)    O fogo é, paradoxalmente, um importante regenerador de matas naturais (principal)
b)    O fogo destrói a matéria orgânica necessária á formação do humo do solo (oposição)
c)    O fogo destrói o excesso de material combustível acumulado no chão (causa)

4.
a)    As mulheres assumiram um importante papel na sociedade ultimamente (principal)
b)    As mulheres são responsáveis por grande parte da produção de um país (conclusão)
c)    O machismo ainda continua vigorando na sociedade como um todo (oposição)


III. Exercício que conjuga compreensão de texto, reflexão cognitiva e uso de gramática padrão:

5. Com base no texto abaixo, qual das alternativas que seguem lhe confere maior coesão, dando-lhe uma noção de relação adversativa (de oposição), a partir da utilização de conectivos adequados:
“Deputados decidiram adiar para a semana que vem a votação, em plenário, da Lei Geral da Copa. O texto foi aprovado ontem em comissão especial com a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios na Copa e na Copa das Confederações. O temor do governo de que esse ponto caísse em plenário foi um dos motivos do adiamento. (...) O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem. Diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa. (...) Outra parte polêmica do texto aprovado ontem diz respeito a meia-entrada. Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios. Os idosos terão desconto em todas as categorias. O acordo é para votar apenas a urgência da Lei Geral da Copa nesta quarta-feira. Como há medidas provisórias trancando a pauta, a proposta sobre o Mundial precisa tramitar em regime de urgência para poder ser votado no plenário”. (Folha de São Paulo, 07/03/2012)

a. “O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem, contudo diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa”; e “Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios, porém os idosos terão desconto em todas as categorias.

b. “O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem, não obstante diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa”; e “Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios, logo os idosos terão desconto em todas as categorias.

c. “O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem, dos quais diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa”; e “Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios, contudo os idosos terão desconto em todas as categorias.

d. “O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem, já que diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa”; e “Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios, mas os idosos terão desconto em todas as categorias.

e. “O acordo é que a questão das bebidas seja votada separadamente na semana que vem, cujos diversos deputados, como os que fazem parte da bancada evangélica, por exemplo, já se articulam para proibir a venda de bebidas nos jogos da Copa”; e “Pela versão aprovada, os estudantes terão meia-entrada na categoria 4 de ingressos, com assentos menos valorizados, e o preço será de US$ 25, com venda em sorteios, entretanto os idosos terão desconto em todas as categorias.



SUGESTÕES DE LEITURA
            A relação de livros abaixo apresenta alguns dos muitos títulos disponíveis no mercado, mas todos eles trazendo - em maior ou menor grau - uma proposta alternativa de ensino da língua portuguesa, isto é, um ensino pautado nas situações de interação comunicativa oral e/ou escrita, em detrimento de um ensino que se assenta numa prática excessivamente mecânica de apreensão de regras e normas gramaticais. O mérito principal dessas obra, portanto, é conseguir, cada um a seu modo, equacionar o compromisso com o uso de um registro culto e padrão da língua com a necessidade de comunicação clara e objetiva, resultando na construção de um discurso inteligível.
            Optamos pela variedade de títulos e propostas, a fim de contemplar objetivos e públicos diversos, motivo pelo qual sentimos também a necessidade de comentar sucintamente cada um dos títulos.


1. GARCIA, Othom Maria. Comunicação em prosa moderna. Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro, FGV, 1983.
            Trata-se de um "clássico" do trabalho com texto, dedicando uma extensa parte do livro com considerações teórico-didáticas e alguns exercícios, sobretudo de reescritura. O livro, com algumas dezenas de edições (a primeira é de 1967), trata não apenas da estrutura sintática da frase em língua portuguesa, mas também de questões relativas ao vocabulário, à organização dos parágrafos no texto, à redação técnica etc.

2. FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo, Ática, 2007.
            Outro livro que pode ser considerado um "clássico" no assunto, não apenas pela quantidade de edições, mas principalmente por já ter sido utilizado por alguns gerações de estudantes do ensino médio e, até mesmo, universitário. Com uma grande variedade de temas, praticamente todos eles pertinentes à construção do texto escrito, o livro se divide em capítulos cursos, objetivos, ao final dos quais há propostas de exercícios e/ou redações.

3. FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo, Ática, 2006.
            Menos conhecido e utilizado que o anterior, mas seguindo caminho semelhante (divisão em capítulos temáticos, exercícios e/ou redação no final etc.), trata-se de um livro um pouco mais "enxuto" (contém praticamente a metade de lições que o anterior), mas, em compensação, um pouco mais "profundo". Pode ser utilizado, portanto, como uma extensão/aprofundamento do livro anterior.

4. MOYSÉS, Carlos Alberto. Língua portuguesa. Atividades de leitura e produção de texto. São Paulo, Saraiva, 2012.
            Como o título já diz, trabalha tanto com a leitura/interpretação de textos, quanto com sua produção. Contém muitos exercícios, alguns um tanto mecânicos para o gênero de livro a que se propõe, mas o esforço compensa pela variedade de atividades escritas. Embora parta do trabalho geral de coesão e coerência textuais, o foco do livro é o texto dissertativo.

5. ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo, Ática. 2004.
            Outro livro com muitas edições. Trabalha bem com a estrutura/construção do texto escrito, buscando abordar tanto o texto narrativo quanto o argumentativo. Há exercícios em cada tema tratado pelo autor, embora o longo apêndice de exercícios no final do livro (apêndice) seja basicamente de exercícios de gramática normativa.

6. DISCINI, Norma. A comunicação nos textos. Leitura, Produção, Exercícios. São Paulo, Contexto, 2005.
            Livro mais profundo, com temas relativos à leitura/produção de textos abordados a partir de uma perspectiva mais "técnica", resultando num livro especialmente apropriado ao público universitário. Com um uso abundante de termos retirados da Linguística Textual, dos Estudos da Enunciação, da Análise do Discurso, da Semiótica etc., a obra tem como uma de sua vantagens o equilíbrio entre texto e imagem, atingindo um efeito didático positivo.

7. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita. Atividades de Retextualização. São Paulo, Cortez, 2001.
            Não se trata de um texto "didático" no sentido mais estrito da palavra, como, de certo modo, os livros anteriores podem ser classificados. Trata-se, antes, de um livro teórico, que aprofunda em considerações sobre a relação entre linguagem oral e escrita. Porém, vale a pensa ser conhecido pela proposta, até certo ponto inovadora, de retextualização, atividade bastante apropriada para o desenvolvimento da comunicação escrita. Embora não contenha exercícios no sentido tradicional do termo, a profusão de exemplos (fartamente comentados) de retextualização que apresenta serve como referência para quem quer trabalhar com o tema na prática.